terça-feira, 17 de julho de 2012

Heleno


É o país do futebol. Rio de Janeiro dos anos 40. Mas, poderia ser a história de um jogador de futebol da atualidade. Na minha opinião, este foi um ponto fez esse filme ser tão interessante, pois devo confessar que não estava muito animada em assisti-lo, inicialmente. Mas, conseguiu segurar a minha atenção. Demonstra claramente que os tempos eram outros. Rio de Janeiro me pareceu uma cidade onírica, encantadora. A fotografia branca e preta da todo um charme, uma contextualização à época em que estamos falando. Mas, a história, o jogador de futebol poderiam muito bem ser de 2012.
Heleno. Achei muito interessante, porque como a maioria dos brasileiros eu gosto de futebol. Ainda fico encantada com as historias dos grandes, os antigos jogadores. Mas, nunca havia ouvido falar em Heleno. E com o passar do filme fiquei me perguntando o por que. Uma vez que ele não foi simplesmente um bom jogador, ele se destacou em sua época. Foi o primeiro em muitos quesitos: foi o primeiro jogador a dar uma entrevista em rádio, o primeiro a ser vendido por uma proposta milionária para times estrangeiros (Boca Junior) e o primeiro a ficar milionário apenas com o futebol. Paradoxalmente, era um dos poucos que não gostava de fazer do futebol um negócio. Queria era jogar bola. Esse era seu grande diferencial. Foi quando eu vi, durante o filme, que ele nunca participou de uma Copa do Mundo. Talvez, por isso eu nunca tenha ouvido falar dele... Seu temperamento e vícios não deixaram que ele fizesse parte dessa parte da história.
Agora, a contemporaneidade da história que eu digo é a perdição em que este jogador se envolve. Parece que no Brasil, em todas as épocas, os jogadores de futebol com muito prestígio acabam se perdendo, de certa forma. Drogas, bebidas, mulheres, praia e futebol. Parece que é um pacote embutido em todas as épocas, com diversos craques que este país já teve. O filme trás um drama que parece acompanhar os jogadores de futebol de todos os tempos.
Entretanto, gosto do modo que foi esboçada a história, revesando presente e passado. Dá uma nostalgia, mesmo de algo que não me pertence, e uma sede de saber o que virá a seguir. Fiquei emocionada em alguns momentos e triste em ver o fim que este grande jogador teve. Ao mesmo tempo, fiquei tentando decifrá-lo. Pareceu pra mim ser uma figura muito antagônica. Ao mesmo tempo que era uma pessoa simples, que jogava futebol na praia com desconhecidos, em campo era temperamental, nem um pouco modesto e completamente briguento. Fora do campo, mulherengo, fumava mais que seus pulmões poderiam aguentar e viciado em uma substância solúvel que eu não sei dizer qual era, bem como em bebidas.
Quando já está internado, não se sabe se reconhece as pessoas, ou entende o que elas estão dizendo. Come recortes de jornais com notícias suas. Talvez uma forma de pegar de volta para si, ou ter dentro de si mais uma vez a glória que um dia foi sua. A cena mais emocionante, em minha opinião, é quando já no fim de sua vida, demenciado e trasnfigurado, entra em campo para jogar futebol com seus companheiros de instituição. Parece que seu rosto se ilumina ao colocar a bola no chão e olhar para o gol. Como se toda inocência e vida retornassem para si.
Especificamente de Rodrigo Santoro que interpreta o herói do filme, este está simplesmente excelente. Irreconhecível, devo dizer, em algumas cenas. Acho ele um ótimo ator brasileiro, que está sempre buscando novas ideias e ultimamente tem escolhido muito bem os projetos em que trabalha. É um filme que vale a pena assistir. Mesmo para quem não gosta de futebol, pois para dizer a verdade, o foco não é no futebol em si e sim na história desta pessoa e no modo em que ele conseguiu, vagarosamente, acabar com a própria vida, apesar de toda fama, talento e prestígio.

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